terça-feira, 22 de novembro de 2016

TROMBOCITOPENIA

Ocorre devido a 5 mecanismos distintos:

1. Pseudotrombocitopenia
Falsa contagem pelo aparelho
Ocorre na presença de paraproteinemias (componente M): níveis aumentados de IgG, IgA e IgM induzem agregação no momento da coleta, principalmente se EDTA é utilizado

2. Destruição acelerada
Causa mais comum de trombocitopenia
Mecanismos imunes – maioria dos casos: púrpura imune idiopática; púrpura trombocitopênica imune relacionada ao LES, HIV ou induzida por drogas
Mecanismos não imunes: púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica, CIVD

3. Diminuição da produção pela medula óssea
Anemia e ou granulocitopena: mielodisplasias, anemia aplásica

4. Trombopoiese ineficaz
Carência de vitamina B12 ou ácido fólico

5. Distribuição anormal
Aumento do baço (hiperesplenismo): sequestro
Trombocitopenia dilucional: transfusão maciça de concentrado de hemácias
Trombocitopenia induzida por hemodiluição: recepção de mais de 8 unidades de sangue em 24h. Transfusão de plaquetas está indicada se houver sangramento microvascular (perioperatório ou mucoso), ou se houver trombocitopenia < 50.000

Púrpura Trombocitopênica Idiopática
Na forma imune, as plaquetas são destruídas de forma prematura na circulação, como resultado de autoanticorpos ou imunocomplexos
Se desordem responsável pela formação dos anticorpos é conhecida, denomina-se como PRI secundária. Ex.: LES, HIV, Linfomas não hodgking
PTI idiopática: nenhuma condição é identificada
Anticorpos são direcionados para os sítios da glicoproteína IIb/IIIa
Vida média das plaquetas de 7 a 10 dias passa para algumas horas, levando a expansão megacariocítica na medula

Forma infantil (aguda): presença de trombocitopenia em período < 6 meses
Resolução espontânea em 90% dos casos
Pico de incidência entre 2 e 6 anos
Ocorrência após infecção viral respiratória ou exantemática
Plaquetas < 20.000 sem sangramento
60% das crianças recuperam contagem em 4 a 6 semanas; 90% em 3 a 6 meses

Forma do adulto (crônica): mais comum em mulheres (3:1), entre os 20 e 40 anos
Início insidioso, história de sintomas hemorrágicos de gravidade variável
Sem antecedentes de infecção e não há esplenomegalia
Manifestações clínicas: gravidade da hemorragia relacionada com contagem de plaquetas
·         10.000 a 30.000: manifestações hemorrágicas de gravidade variável
·         < 10.000: sangramentos que põem em risco a vida
Sangramento sob forma de petéquias, equimoses, sangramento gengival e bolhas hemorrágicas, epistaxe
Sangramento menstrual excessivo; sangramento genitourinário (rim ou bexiga); sangramento intestinal (melena)
Diagnóstico: de exclusão
Considerado em < 50.000 e
1 – esfregaço periférico com nº reduzido de plaquetas, ausência de esquizócitos, blastos ou outro achado que aponte para outra etiologia da plaquetopenia
2 – ausência de causas secundárias de PTI
Aspirado de medula óssea: afastar demais causas
Pesquisa de anticorpos antiplaquetários não é realizada
Achados laboratoriais: plaquetas aumentadas de volume (MOV > 12fL), índice de anisocitose de plaquetas (PDW) elevado

Tratamento:
Forma infantil
Comumente autolimitada
Criança < 30.000 e com sangramento mucoso (“úmido”): prednisona 2mg/kg/dia por 2 a 4 semanas
Forma adulta: Tratamento em todos entre 20.000 ou 50.000 com sangramento
Corticoide:
Prednisona 1mg/kg/dia por 4 a 6 semanas, seguida de redução paulatina por 4 a 6 semanas
Resposta ao corticoesteroide em 70% dos casos
Maioria volta a fazer plaquetopenia após redução ou retirada do corticoide. Se não houver sangramento e plaquetas estiverem acima de 20.000, podem ser apenas observados
Esplenectomia:
·         Eletiva: pacientes que reagem durante diminuição da dose de prednisona e naqueles menores que 20.000 a 30.000 por um período de 3 meses
·         Urgência: indivíduos com plaquetopenia grave (< 10.000) que não respondem à terapia esteroide nas primeiras 6 semanas
Procedimento melhora contagem de plaquetas e mantém remissões duradouras em 50 a 80% dos casos, com plaquetometria > 100.000

Imunoglobulina Venosa e Anti-D (RhoGAM)
Imunoglobullina venosa polivalente 1g/kg/dia em 2 dias sucessivos: empregada de forma aguda em sangramentos incoercíveis ou pré-operatórios
Terapia de maior eficácia a curto prazo, tendo rápido início de efeito
Imunoglobulina ocupa os receptores Fc-gama da membrana dos histiócitos, evitando a fagocitose das plaquetas sensibilizadas
Anticorpo anti-D (para pacientes Rh +) IV ou IM 50-70 mcg/kg/dia
Opsoniza membrana dos eritrócitos ocupando também os receptores Fc dos macrófagos esplênicos

PTI Refratária
Trombocitopenia < 50.000 por mais de 3 meses, apesar da esplenectomia
Se sangramento ou plaquetas < 20.000: esquema com ‘pulsos’ de dexametasona 10-40mg/kg/dia por 4 dias a cada 4 semanas, mantendo prednisona 10mg/dia entre elas
Rituximab pode ser oferecido aos casos refratários ao corticoide – resposta em 50%; inibe os linfócitos B, levando redução da produção de IgG
Transfusão de plaquetas: não indicada inicialmente; alguns estudos corroboram em casos de plaquetopenia grave sintomática

PTI Secundária
PTI induzida por drogas: reação indiossincrásica
Caso da quinidina: autoanticorpo dirigido contra a droga reage também contra a glicoproteína IIb/IIIa na membrana plaquetária
Heparina: mediada pela formação de anticorpos contra o complexo heparina fator 4 plaquetário; ocorre entre 5 e 15 dias após início da heparinização, geralmente cursando com contagem plaquetária entre 50.000 e 100.000, voltando ao normal poucos dias após suspensão da droga
Quadro clínico: manifestações hemorrágicas graves – sangramento e bolhas hemorrágicas em membranas mucosas, petéquias e equimoses
Tratamento: suspensão da droga

Trombocitopenia gestacional: mecanismo não bem conhecido; participação imune em alguns casos
PTI no LES: curso comparado à PTI crônica, com medidas terapêuticas similares
PTI no HIV: 40% dos pacientes infectados; destruição imune é o mecanismo implicado
Tratamento: zidovudina (AZT); corticoides devem ser evitados devido à complicações comuns

Outras causas
Doenças linfoproliferativas
Infecções virais – dengue, CMV, Epstein Barr, parvovírus B19, vírus da caxumba e rubéola
1.       Formação de Ac contra o vírus reagem com elementos da membrana da plaqueta
2.       Deposição na membrana do complexo Ac-Ag-viral
3.       Invasão viral dos megacariócitos na medula óssea
4.       Partículas virais inibindo trombopoiese
5.       Hemofagocitose induzida por vírus
Infeções por protozoários – malária
Infecções bacterianas – leptospirose, riquetsiose, meningococcemia, sepse

Púrpura trombocitopênica trombótica
Representa o grupo das microangiopatias trombóticas difusas, do qual também participa a CIVD
Caracterizada pela oclusão trombótica disseminada da microcicrulação, levando à síndrome de anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia, sintomas neurológicos, febre e insuficiência renal
Mulheres (2:1); 20 – 40 anos
Fisiopatologia está na injúria endotelial – endotélio liberam fatores que ativam as plaquetas (FvWB), induzindo aglutinação
Outro mecanismo – deficiência adquirida de ADAMST-13, uma metaloproteinase endógena responsável pela clivagem dos multímeros de alto peso molecular do FvWB
Microtrombos formados nas arteríolas terminais e na rede capilar levam à isquemia de múltiplos órgãos, consumo de plaquetas e lise de hemácias com formação de esquizócitos
Manifestações clínicas: doença definida pela pêntade (40% dos pacientes)
1.       Anemia hemolítica
2.       Trombocitopenia
3.       Sintomas neurológicos
4.       Febre
5.       Insuficiência renal
Primeiros sintomas: mal estar e fraqueza, seguidos por quadro neurológico variável; febre presente em 50% inicialmente
Exame físico: púrpura (petéquias e equimoses), mucosas descoradas e ligeiramente ictéricas
Laboratório: Anemia, leucocitose neutrofílica moderada com algum desvio para esquerda, plaquetas < 50000
Presença dos critérios de hemólise: reticulocitose acentuada, policromatofilia, aumento de LDH, aumento de BI, queda da haptoglobina
Por ser intravascular, é comum a hemoglobinúria e hemossindenúria
Esfregaço demonstra esquizócitos (fragmentos de hemácia)
EAS mostra hematúria e proteinúria
Bioquímica: azotemia discreta e alteração das enzimas hepáticas podem ser encontradas
Diagnóstico: clínico, confirmado com biópsia (pele, gengiva, medula óssea) em 50% dos casos; achado característico – depósitos hialinos subendoteliais
Tratamento e prognóstico:
Plasmafarese: realizada retirando-se diariamente todo o plasma do paciente (40ml/kg), trocando-o por unidades de plasma fresco congelado; realizar trocas até completa estabilização do paciente e normalização dos exames laboratoriais; Período médio de 10 dias
Pacientes com recidiva podem ser tratados com novo curso de plasmaferese; casos refratários ou recidivantes exigem terapia alternativa (plasmaferese com criossupernadante, vincristina e esplenectomia)

Outras Púrpuras Microangiopáticas
Síndrome hemolítico urêmica
CIVD

Síndrome HELLP

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